O grande músico, intérprete, poeta, escritor e baiano arretado Raul Seixas deu um outro uso à dentadura, diferente daquele que nós, dentistas damos. Veja só como o “maluco beleza” fez uso desse tipo de prótese.

“Ah! Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar…” Este trecho da música “Ouro de Tolo” mostra uma pequena referência à nossa área de trabalho. Raul Seixas começou a frequentar o psiquiatra aos 14 anos de idade. Uma cabeça que fervilhava criatividade só poderia ser classificada como “louca” em tempos caretas (leia-se hipócritas) como os de sua infância. O trecho também poderia servir de motivação aos dentistas nesses tempos de bandalheira dos convênios odontológicos. Algo como: “Ah, eu não me sento no mocho de um consultório, com a boca do meu paciente escancarada, cheia de dentes, esperando o pagamento do convênio glosar!”

“Eu já entrei vinte vezes no escritório do psicanalista. Depois paguei ao médico e depois fui ao dentista para ver o que eu tenho e não consigo dizer…” Neste trecho de um pequeno poema de Raul, vemos que o “Metamorfose Ambulante” teve problemas dentários em certo período de sua vida. No filme documentário lançado recentemente nos cinemas, temos até o depoimento do dentista do cantor, dizendo que após recuperar seus dentes, Raul teve sua auto estima elevada. Pudera! 

Raul, fã incondicional de Elvis e do verdadeiro Rock n´Roll, teve muitos problemas na época em que as composições precisavam passar pelo aval de um censor. Imagina não ter a liberdade para escrever como a que temos hoje? Veja abaixo o porquê do título deste Post e como que Raul Seixas usou a dentadura de um modo totalmente diferente da dos desdentados – se aproveitando de seus fonemas, muito parecidos com certa palavra que significou a opressão daqueles tempos. Toca Raul!

 “Para O ESTADÃO (1983)

Está na praça, já chegou
O dicionário do censor
Desde A até o Z
Tem o que você pode ou não dizer
Antes de pôr no papel
O que você pensou
Veja se na sua frase
Tem uma palavra que não pode
Você não queria assim… mas que jeito?
O dicionário do censor
É que decide , não o autor
Um exemplo pra você
Se na página do “P”
Não consta a palavra “povo”
É porque essa não pode
Vê se no “o” tem escrito “ovo”
Ovo pode…
Se o sentido não couber
Esqueça , risque tudo, compositor
Seu dever é decorar
As que pode musicar
No dicionário da censura
Nem botaram “dentadura“…”

Ele que é a mosca da sopa, o dente do tubarão, os olhos do cego e a cegueira da visão, balançou a sociedade com versos que ecoam até hoje. Para você dentista, que molda aquela boca difícil, ou faz uma moldagem que precisa ser perfeita, se errar de primeira, não tenha vergonha de fazer como Raul. Tente outra vez!

Um Abraço,

Equipe Dicas Odonto