Atendi um paciente esta semana com queixa de dor forte e pontadas na região inferior esquerda. Pedi para que ele tirasse sua prótese total inferior, conhecida popularmente com dentadura. Quando olhei para a prótese perguntei: “Onde você fez essa dentadura?” E ele me respondeu, sem alarde: “Fiz com um protético, amigo meu, no ano passado. Ele trabalhou na IMBRA, sabe?” 

Na equipe de odontologia, cada profissional tem o seu lugar bem delimitado. O técnico em prótese dentária (TPD) ou protético é um profissional absolutamente necessário, parte integrante da odontologia, que tem como função confeccionar a parte laboratorial das próteses dentárias. Seu trabalho envolve fundição de metais, aplicação de cerâmicas, confecção de núcleos, de copings, montagem de dentes em dentaduras, acrilização e etc. Não confundir Protético com Protesista. Protesista é o dentista especialista em prótese.

O protético não pode mexer na boca do paciente. Todo seu trabalho artesanal é feito em laboratório. Na via normal dos tratamentos, para fazer uma dentadura, por exemplo, o dentista é responsável por toda a avaliação de como esta prótese vai ser, como vai ficar a mordida e qual vai ser a cor dos dentes, escolhida junto com o paciente. O dentista vai examinar toda a boca do paciente, ver o rebordo ósseo, a mucosa (quando não temos mais dente, não chamamos mais de gengiva e sim de mucosa), além de fazer um exame geral de saúde. É importante ressaltar que o dentista é o único responsável pela prótese entregue ao seu paciente. Portanto, não adianta colocar a culpa no protético, doutor! Se a prótese apresenta erros, eles devem ser corrigidos nas fases anteriores a entrega final.

Estando tudo isso bem claro, posso voltar ao absurdo que me fez escrever este post. Pacientes: Não aceitem que protéticos realizem próteses diretamente em suas bocas. 

Podem dizer por aí que existem protéticos que entendem mais de dente que certos dentistas. Isso pode até ser verdade. Um protético com anos de experiência entende mais de dente do que um dentista recém formado, mas a boca não é só feita de dentes e ela não vem sozinha para a gente. Junto com a boca existe um indivíduo. Quem está habilitado para tratar de um paciente como um todo é o cirurgião dentista.

Alguém arrisca adivinhar o porquê da dor do paciente no lado inferior esquerdo? Vocês viram a figura da prótese. É uma calamidade. Os dentes estão tortos, com espaços. O protético “amigo da onça” ainda esqueceu dos incisivos laterais e enfiou um pré-molar a mais ali na esquerda. A parte rosa da dentadura está porcamente polida, com marcas de reembasamentos. Porém, não é só isso. A mucosa não estava machucada na região em que o paciente sentia a dor. Ao passar o dedo sobre a região, o paciente dava um pulo. E aí, alguém arrisca diagnóstico?

A minha hipótese diagnóstica é a migração do forame mentual. Vejam só: o nervo alveolar inferior “sai” de dentro do osso por esse buraquinho na frente da mandíbula,  abaixo das raízes dos pré-molares inferiores (tem uma saída de cada lado – ver figura abaixo – forame mentual). Como o paciente perdeu seus dentes há muito tempo, o osso vai “diminuindo” em altura. “Abaixou” tanto que a saída do nervo que ficava na frente, ficou em cima, bem onde a dentadura se apoia. Para confirmar, o paciente precisaria fazer uma radiografia panorâmica, periapical ou mesmo uma tomografia do local. Como avaliei este paciente em um ambulatório, encaminhei o seu caso para um profissional especializado e recomendei que ficasse sem a prótese, quando possível.

Vejam como o forame “muda de lugar” com a perda dos dentes e do osso

Sem desmerecer os protéticos, mas como é que um protético vai diagnosticar isso? Eles não tem este treinamento. Seu treinamento é em anatomia dental, em oclusão, em materiais dentários e em laboratório. Não é da alçada dos nossos colegas de equipe de saúde bucal. Por isso, cada um no seu quadrado!

Um Abraço,

Equipe Dicas Odonto