A gente discute muito os procedimentos odontológicos, estuda novas técnicas de abordagem clínica e cirúrgica, se especializa, entende à fundo processos biológicos complicados e atendemos muitos pacientes resolvendo seus diversos problemas bucais. Será que isso é o suficiente? Será que ser bom em resolver problemas de saúde bucal faz de nós bons dentistas?

Levanto estas questões porque parece que focamos muito na boca, na clínica, na restauração perfeita, isto é na resolução daqueles problemas pontuais ali e estamos nos esquecendo da educação em saúde bucal. Não estou generalizando e nem culpando os que deixam de lado as orientações aos pacientes, porém dentista hoje não pode ser mais um “tapador de buraco” apenas.

Uma conversa com meu novo coordenador da saúde bucal da nova empresa em que estou ingressando esta semana me fez abrir mais os olhos para o tamanho do bem que a odontologia pode fazer. Pensar no paciente como um ser humano completo e parte de uma sociedade. Eu sei que muitos pregam isso, mas conseguem colocar em prática? O dentista recebe este paciente em seu consultório, faz os procedimentos necessários em sua boca e o devolve para a sociedade. Como você devolve seu paciente para a sociedade? Você dentista, conheceu a realidade deste paciente? Onde ele mora? Como ele vive? Será que ele não vai voltar daqui alguns anos com mais cáries para você fazer mais restaurações? Não podemos fazer um pouco mais por ele?

Nós fornecemos saúde. Deveríamos fornecer, pelo menos. Devemos deixar o paciente auto-suficiente em relação a manutenção de sua saúde bucal. Ele DEVE sair do seu consultório sabendo escovar os dentes e passar o fio dental corretamente. A ação preventiva daquele pensamento de saúde pública tem que estar presente na prática clínica. O dentista deveria reservar uma consulta apenas para instrução de higiene oral. Pode até cobrar por isso, pois você está fazendo seu trabalho.

O nosso dia-a-dia é corrido. E para quem atende convênios, então? Pacientes de 20 em 20 minutos. Vocês acham que sobra tempo para falarmos em prevenção? É “oi … tziiiiiiim … tchau!”

Vejam como a qualidade do trabalho do dentista fica diminuída quando tomamos certas atitudes. Muitas vezes, a rotina nos acostuma mal. “Olá … pode sentar … abra a boca … ok, vai custar tanto … quer fazer? … pronto … até logo”. Quem quer ser diferenciado, está aí uma oportunidade.

Vamos usar o tempo de anamnese para realmente conhecer nosso paciente. Como um ser psico-social que ele é. Infelizmente, o Brasil ainda é muito deficiente de saneamento básico, de infra estrutura, de fluoretação das águas, de higiene, entre outros problemas. Transforme seus pacientes em pequenos agentes de saúde bucal. As crianças, quando bem orientadas saem falando para toda a família como se deve praticar prevenção e saúde bucal. Não deixem que a correria, a rotina e o tempo de profissão tire de vocês uma das missões mais nobres do cirurgião dentista: capacitar seu paciente para que ele seja auto suficiente quanto à sua saúde bucal. Isso não significa prejuízo. Significa que ele vai entender que de 6 em 6 meses, ou no tempo que você decidir, ele vai voltar no seu consultório para uma avaliação de rotina.

Forneça a primeira escova. Pegue um espelho e ensine. Independente da idade. Dê a escova na mão do paciente e peça para ele mostrar como ele faz. Aí trabalhe a coordenação. Trabalhe principalmente os porquês. Explique que ele não pode escovar os dentes pensando na novela das 8 ou na reunião do dia seguinte. Ele precisa focar ali e prestar atenção no que está fazendo. Limpando todas as faces dos dentes. Depois faça o mesmo com o fio dental ou escova interdental ou escova de tufo. 

Veja como o paciente vai voltar para a próxima consulta. Aquele que entender e ouvir suas orientações vai fazer isso para o resto da vida. Vamos sair do óbvio e provar para todos que o dentista é necessário. Que vale à pena investir no nosso trabalho. Aumentar nosso valor e, quem sabe, subir nas prioridades dos pacientes.

Um Abraço,

Equipe Dicas Odonto