Todos se lembram do personagem imortal de Christopher Lambert, o Highlander, né?

Pois é. Hoje de manhã bem cedo (à partir das 5:45 da matina) tive a oportunidade de atender dois desses imortais remanescentes.

Um senhor chegou ao Pronto Socorro reclamando de dor nos incisivos centrais. Ele preencheu a ficha e eu o chamei. Sua queixa principal: “Ô doutor, esses dois dentes estão doendo há mais de uma semana” – e ele mexeu no 11 e no 21. Dei uma examinada e eles estavam balançando mais do que os peitos da Larissa Riquelme em situação de gol do Paraguai. Mobilidade Grau III e supuração por via periodontal. Olhei sua anamnese e lá estava marcado: Diabetes e Hipertensão arterial. Segue minha conversa com o Highlander:

Eu – “O senhor marcou aqui que tem diabetes e hipertensão. O senhor faz tratamento para estas doenças?”

Paciente – “Não, doutor.”

Eu – “O senhor não toma remédio para nenhuma das doenças? Nem faz controle com o médico?

Paciente – “Ah, sim. Eu tomo um Captopril quando me dá dor na nuca.”

Ok. Respirei fundo. Como é que eu vou resolver o problema do paciente se a saúde dele está uma meleca e ele não está nem aí?

No atendimento de urgência, não tinha o que fazer pelo paciente. Os dentes estavam perdidos. Eu perguntei se ele queria extrair, mas eu não poderia colocar nada no lugar naquele momento. Óbvio que ele não quis e acabei medicando o paciente e o encaminhando para o médico antes de ir ao dentista.

A Segunda Highlander de hoje foi logo na sequência! A senhorinha de 59 anos foi lá para extrair os seus últimos dentes da boca – 43 e 44. Ao final do procedimento, ela se sentiu tonta. Pedi para que ela se sentasse um pouco e lhe dei um copo d´água. Aí perguntei: ” – A senhora comeu alguma coisa hoje?” E ela me respondeu: ” – Não e vou ficar em jejum até às 14:00h, pois vou fazer um exame de sangue.” Claro que fiquei preocupado com a senhorinha, mas será que ela não pára um pouco e pensa que ficar todo esse tempo sem comer, mesmo sem extração, pode ser perigoso? Ainda mais pegando ônibus e lotação sozinha por aí?

Eu sei que trabalho num local cujos pacientes são pobres e não têm condições a tratamentos e que a saúde pública no Brasil é deficiente. Porém, o primeiro tiozinho já tinha sido diagnosticado e não estava nem aí para suas doenças. Ele até sabia qual remédio tomar para a hipertensão. É uma ignorância seletiva. As pessoas acham que uma extração é coisa simples, que não dá nada e que podem sair por aí para bater perna, pois têm o corpo fechado.

Aos Highlanders imortais (antíteses dos hipocondríacos), deixo meu recado: procurem o médico, corram atrás do tratamento, insistam, pois apesar de não terem sintomas agudos muito visíveis, essas doenças são graves e levam à morte!

Aos dentistas, fica a dica que todos estão carecas de saber: perguntem tudo ao paciente. Extenuem todos os pontos da anamnese. Não queiram passar perreios desnecessários com esse pessoal que não tem medo de morrer na sua cadeira.

Um Abraço,

Equipa DicasOdonto

Luiz Rodolfo